ÍSIS SEM VÉU
H.P.Blavatsky
Compilação: Mário J.B. Oliveira


A ANTIGUIDADE E A TEORIA DAS CORRELAÇÕES DE FORÇAS. (L. 1. pág. 296).

À teoria da "correlação de forças", embora possa ser nas mentes de nossos contemporâneos "a maior descoberta de nosso século", não pode explicar nem o começo nem o fim de tais força: e não pode indicar-lhes a causa. As forças podem ser conversíveis e uma pode produzir a outra, mas nenhuma ciência exata é capaz de explicar o alfa e o ômega do fenômeno. E, assim parafraseado por Jowett: "Deus conhece as qualidades originais das coisas; o homem só pode esperar chagar à probabilidade". Os antigos hindus baseavam sua doutrina da emanação e absorção precisamente nessa lei. Tò "Ov, o ponto primordial num círculo infinito, "cuja circunferência está em parte alguma, e o centro em toda parte", que emana de si todas as coisas, e que as manifesta no universo visível sob formas multifárias. As formas alternam-se, misturam-se e, depois de uma gradual transformação do espírito puro (ou o "Nada" búdico) na matéria mais grosseira, começam a se retrair e também gradualmente a reemergir em seu estado primitivo, que é a absorção no Nirvana - o que é então isso senão a correlação de forças?

A Ciência diz-nos que o calor desenvolve a eletricidade, e a eletricidade produz calor; e que o magnetismo produz eletricidade, e vice-versa. O movimento dizem-nos, resulta do próprio movimento, e assim por diante, ad infinitun. Este é o ABC do ocultismo e dos primeiros alquimistas. Descobrindo-se e provando-se a indestrutibilidade da matéria e da força, o grande problema da eternidade está resolvido. Que necessidade temos então do espírito? Sua inutilidade está doravante cientificamente demonstrada!

Portanto, pode-se dizer que os filósofos modernos não deram um passo além do que os sacerdotes da Samotrácia, os hindus, e mesmo os gnósticos cristãos tão bem conheciam. Os últimos demostraram-no no mito maravilhosamente ingênuo dos dioskuri, ou "os filhos do céu", os irmãos gêmeos a respeito dos quais diz Schweigger "que morrem constantemente e voltam à vida juntos, pois é absolutamente necessário "que um morra para que o outro possa viver". Eles sabiam tão bem quanto os nossos físicos que, quando uma força desaparece, ela simplesmente se converte numa outra força. Embora a Arqueologia não tenha descoberto nenhum aparelho antigo para tais conversões especiais, pode-se, não obstante, afirmar com perfeita razão e com base em deduções analógicas que quase todas as religiões antigas se fundavam em tal indestrutibilidade da matéria e da força - mais a emanação do todo a partir de um fogo etéreo, espiritual - ou o Sol Central, que é Deus ou Espírito, em cujo conhecimento se baseia potencialmente a antiga Magia Teúrgica.

No comentário manuscrito de Proclus sobre a Magia, ele dá a seguinte explicação: "Do mesmo modo que os amantes avançam gradualmente da beleza que é aparente em formas sensíveis para aquela que é divina, assim os sacerdotes antigos, quando pensavam que há uma certa aliança e simpatia entre as coisas naturais, entre as coisas visíveis e as forças ocultas, e descobriram que todas as coisas subsistem em tudo, edificaram uma ciência sagrada com base em sua simpatia e similaridade mútua. Portanto, eles reconheciam nas coisas subordinadas as coisas supremas, e, nas supremas, as secundárias; nas regiões celestes, as propriedades terrestres subsistindo de maneira causal e celestial, e na terra, as propriedades celestes, mas de acordo com a condição terrestre".

Proclus assinala certas peculiaridades misteriosas das plantas, dos minerais e dos animais, todas as quais são muito bem-conhecidas por nossos naturalistas, mas nenhuma é explicada. Tais são o movimento rotatório do girassol, do heliotrópio, do lótus - que, antes de o Sol se levantar, dobram as folhas, guardando-as consigo, por assim dizer, e as expandem então gradualmente quando o Sol se levanta, para recolhê-las novamente quando este se põe -, das pedras solares e lunares e do hélio-selene, do galo e do leão, e outros animais. "Ora, os antigos", diz ele, "tendo contemplado a mútua simpatia das coisas celestes e terrestres, aplicaram-na para propósitos ocultos, de natureza celeste e terrestre, por cujo intermédio, graças a certas semelhanças, deduziram as virtudes divinas nesta morada inferior.(...) Todas as coisas estão repletas de naturezas divinas; as naturezas terrestres recebem a plenitude das que são celestes, e as celestiais das essências supercelestiais, ao passo que cada ordem de coisas procede gradualmente de uma bela descida do mais alto ao mais baixo. Pois tudo que se reúne acima da ordem das coisas dilata-se em seguida descendo, as diversas almas distribuindo-se sob a conduta de suas diversas divindades".

Evidentemente, Proclus não advoga aqui simplesmente uma superstição, mas uma ciência ; pois não obstante ser oculta, e desconhecida de nossos eruditos, que lhe negam as possibilidades, a magia ainda é uma ciência. Ela se baseia solidamente e unicamente nas misteriosas afinidades existentes entre corpos orgânicos e inorgânicos, nas produções visíveis dos quatro reinos, e nos poderes invisíveis do Universo. O que a ciência chama de gravitação, os antigos e os hermetistas medievais chamavam de magnetismo, atração, afinidade. É a lei Universal, que foi compreendida por Platão e exposta no Timeu como a atração dos corpos menores pelos maiores, e dos corpos semelhantes pelos semelhantes, estes últimos exibindo antes um poder magnético do que a lei da gravitação. A fórmula antiaristotélica de que a gravidade força todos os corpos a caírem com igual rapidez, sem relação com o seu peso, sendo a diferença causada por alguma outra desconhecida, aplicar-se-ia ao que parece com mais adequação antes ao magnetismo do que à gravitação, pois o primeiro atrai antes em virtude da substância do que do peso. Uma completa familiaridade com as faculdades ocultas de tudo que existe na Natureza visíveis e invisíveis; suas relações, atrações e repulsões mútuas; a causa desta, remonta até o princípio espiritual que penetra e anima todas as coisas; a habilidade para fornecer as melhores condições para que este princípio se manifeste, noutras palavras, um profundo e exaustivo conhecimento da lei natural - tal foi e é a base da Magia.







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