ÍSIS SEM VÉU
H.P.Blavatsky
Compilação: Mário J.B. Oliveira


PSICOMETRIA, "A LUZ ASTRAL", E "A MEMÓRIA DE DEUS". (L.1.pág.244).

Há cientistas e cientistas; e se as ciências ocultas sofrem, na instância do Espiritismo moderno, da malignidade de uma classe, elas tiveram, não obstante, os seus defensores em todos os tempos entre os homens cujos nomes derramaram luzes sobre a própria ciência. No primeiro posta está Issac Newton, "a luz da Ciência", que acreditava plenamente no Magnetismo tal como fora ensinado por Paracelso, Van Helmont e os filósofos do fogo em geral. Ninguém ousará negar que a sua doutrina do espaço e da atração universal é tão-só uma Teoria do Magnetismo. Se as suas próprias palavras significam alguma coisa, elas querem dizer que ele baseou todas as suas especulações na "alma do mundo", o grande agente universal e magnético que ele chamava de divine sensorium. "Aqui", diz ele, "trata-se de um espírito muito sutil que penetra tudo, mesmo os corpos mais duros, e que está oculto na sua substância. Pela força e pela atividade desse espírito, os corpos se atraem uns aos outros e se mantêm juntos quando colocados em contato. Através dele, os corpos elétricos operam à distância mais remota, tanto quanto se estivessem próximos, atraindo-se e repelindo-se; por este espírito a luz também flui e é refratada e refletida , e aquece os corpos. Todos os sentidos por esse espírito e por ele os animais movem os seus membros. (...) Mas estas coisas não podem ser explicadas com poucas palavras e não temos experiência suficiente para determinar plenamente as leis pelas quais opera esse espírito universal".

Há duas espécies de magnetização; a primeira é puramente animal, a outra é transcendente e depende da vontade e do conhecimento do mesmerizador, assim como do grau de espiritualidade do paciente e da sua capacidade de receber as impressões da luz astral. Deve-se observar aqui a clarividência depende muito mais da primeira-animal do que da segunda - transcendente. O paciente mais positivo se submeterá ao poder de um adepto, como Du Potet. Se a sua opinião estiver convenientemente dirigida pelo mesmerizador, pelo mago ou pelo espírito, a Luz Astral deverá liberar ao nosso escrutínio os registros mais secretos; pois, se ela é um livro que sempre está fechado àqueles "que vêem e nada percebem", por outro lado está sempre aberto àquele que quer vê-lo aberto. Ele guarda um registro inalterado de tudo que foi, que é ou que será. Os mínimos atos de nossas vidas estão impressos nele e mesmo os nossos pensamentos estão fotografados em suas páginas eternas. É o livro que vemos aberto pelo anjo do Apocalipse, "que é o Livro da vida e é por ele que os mortos são julgados de acordo com as suas obras". Ele é, em suma, a MEMÓRIA de DEUS!

"Os oráculos afirmam que a impressão dos caracteres e de outras visões divinas aparecem no Éter. (...) Nele, as coisas sem figura estão figuradas", diz um fragmento antigo dos Oráculos de Zoroastro.

Assim, tanto a antiga quanto a moderna sabedoria, vaticínio e ciência, concordam na corroboração das asserções cabalísticas. É nas páginas indeléveis da luz astral que são estampadas as impressões de todo pensamento que pensamos e de todo ato que realizamos; e os eventos futuros - efeitos de causas há muito esquecidas - já estão ali delineados como uma pintura vívida que o olho do vidente e do profeta podem ver. A memória - o despertar do materialista, o enigma do psicólogo, a esfinge da Ciência - é, para o estudioso das filosofias antigas, apenas um nome que designa o poder que o homem exerce inconscientemente e que partilha com muitos dos animais inferiores, de olhar com a visão interior para a luz astral e de ver aí as imagens das sensações e dos incidentes do passado. Em vez de procurar os gânglios cerebrais para "as micrografias dos vivos e dos mortos e de lugares que já visitamos, de incidentes de que já participamos", eles se dirigiram ao vasto repositório em que os registros da vida de todo homem, assim como de toda pulsação do cosmo visível, estão armazenadas para toda a eternidade!

O clarão da memória, que se supõe tradicionalmente mostrar ao homem submerso todas as cenas há muito esquecidas da sua vida mortal - como a paisagem é revelada ao viajante por intermitentes clarões de relâmpagos -, é apenas um vislumbre repentino que a alma combatente lança nas galerias silenciosas em que a sua história está pintada em cores imperecíveis.

O fato bastante conhecido - corroborado pela experiência pessoal de nove entre dez pessoas - de que freqüentemente reconhecemos como familiares cenas e paisagens e conversas que vemos ou ouvimos pela primeira vez, e às vezes em lugares aos quais nunca fomos antes, é um resultado das mesmas causas. Os que acreditam na reencarnação invocam esse fato como uma prova adicional de nossa existência anterior em outros corpos. Este reconhecimento de homens, lugares e coisas que nunca vimos é atribuído por eles a clarões da memória anímica de experiências anteriores. Mas os homens de antanho, como os filósofos medievais, difundiram energicamente uma opinião contrária.

Eles afirmaram que - embora este fenômeno psicológico fosse um dos maiores argumentos a favor da imortalidade e também da preexistência da alma, sendo esta última dotada de uma memória individual separada do nosso corpo físico - ele não se constitui em prova da reencarnação. Como Éliphas Lévi expressa muito bem, "a Natureza fecha a porta depois que cada coisa passa e leva a vida à frente" em formas mais perfeitas. A crisálida transforma-se em borboleta; esta nunca se transforma novamente numa larva. Na calma das horas noturnas, quando os nossos sentidos corporais estão tolhidos pelo sono e o nosso físico repousa, a forma astral torna-se livre. Ela então se esvai para fora de sua prisão terrena e, segundo a expressão de Paracelso, "confabula com o mundo exterior" e viaja pelos mundos visíveis e invisíveis. "No sono", diz ele, "o corpo astral (alma) está liberto dos seus movimentos; então ele voa para os seus pais e conversa com as estrelas". Os sonhos, os presságios, a presciência, os prognósticos e os pressentimentos são impressões deixadas por nosso corpo astral em nosso cérebro, que os recebe mais ou menos distintamente, de acordo com a intensidade de sangue que lhe é fornecido durante as horas de sono. Quanto mais débil esteja o corpo físico, mais vívida será a memória anímica e maior liberdade gozará o espírito. Depois de profundo e repousado sono sem sonhos, o homem retorna ao estado de vigília, não conserva nenhuma recordação de sua existência noturna e, contudo, em seu cérebro, estão gravadas, embora latentes sob a pressão da matéria, as cenas e paisagens durante sua peregrinação no corpo astral. Esta imagens latentes podem ser reveladas pelos relâmpagos da memória anímica que estabelecem momentos intercâmbios de energia entre o universo visível e o invisível, isto é entre os gânglios micrográficos cerebrais e as moléculas cenográficas da luz astral. E um homem que sabe que nunca visitou em corpo, nem viu a paisagem e a pessoa que ele reconhece, pode afirmar que os viu e os conhece, pois esse conhecimento foi travado durante uma dessas viagens em "espírito". A isso os filósofos fazem apenas uma objeção. Responderão que no sono natural - perfeito e profundo - "a metade da nossa natureza, que é volitiva, está em condição de inércia"; em conseqüência, é incapaz de viajar; tanto mais a existência de um tal corpo ou alma astral individual é considerada por eles um pouco menos do que um mito poético.

Ninguém, por grosseiro e material que seja, pode evitar o fato de levar uma existência dupla; uma no universo visível, outra no invisível. O princípio vital que anima a sua constituição física está principalmente no corpo astral; e enquanto suas partículas densas ficam inertes, as mais sutis não conhecem limites nem obstáculos. Estamos perfeitamente conscientes de que muitos eruditos, e também ignorantes, se erguerão contra essa teoria da distribuição do princípio vital. Eles prefeririam continuar na ignorância bem-aventurada e confessar que ninguém sabe nem pode pretender dizer de onde vem esse agente misterioso e para onde ele vai ao invés de conceder um momento de atenção àquilo que consideram como teorias antigas e desacreditadas. Alguns, colocando-se no terreno da Teologia, podem objetar que os brutos cegos não possuem almas imortais e, em conseqüência, não têm espíritos astrais; pois os teólogos, como os leigos, vivem sob a errônea impressão de que alma e espírito são uma e a mesma coisa. Mas se estudarmos Platão e outros filósofos da Antigüidade, poderemos perceber perfeitamente que, enquanto a "alma irracional", com que Platão designa o nosso corpo astral, ou a representação mais etérea do nosso ser, pode ter no melhor dos casos apenas uma continuidade de existência mais ou menos prolongada além-túmulo - o espírito divino, erroneamente chamado de alma pela Igreja, é imortal por sua própria essência. (Qualquer erudito hebraico apreciará prontamente a distinção que existe entre as palavras, rûah, e, nephesh.) Se o princípio vital é algo isolado do espírito astral e não está de maneira alguma ligado a ele, como é que pode dizer que a intensidade dos poderes clarividentes depende tanto da prostração corporal do paciente? Quanto mais profundo é o sonho hipnótico e menos sinais de vida se notem no corpo físico, mais claras se tornam as percepções espirituais e mais penetrantes as visões da alma, que, desprendida dos sentidos corporais, atua com muito mais potência do que quando ele serve de veículo num corpo forte e sadio. Brierre de Boismonte fornece exemplos repetidos desse fato. Os órgãos da visão, do olfato, do paladar, do tato e da audição provaram tornar-se mais perfeitos num paciente mesmerizado privado da possibilidade de exercê-los corporalmente do que quando os utiliza em seu estado normal.

Estes fenômenos provam incontestavelmente a continuidade da vida, pelo menos por um certo período depois de morto o corpo físico. Mas, embora durante a sua breve permanência na Terra a nossa alma possa ser comparada a uma luz ocultada num alqueire, ela não deixa de brilhar por isso e de receber a influência de espíritos afins, de modo que todo pensamento bom ou mau atrai vibrações da mesma natureza tão irresistivelmente quanto o imã atrai as limalhas de ferro. Esta atração é proporcional também à intensidade com que o impulso do pensamento se faz sentir no éter. Assim se pode compreender como alguém se imponha com tantã força em sua época, que sua influencia pode ser transmitida - através de correntes de energia que estão sempre em intercâmbio entre os dois mundos, o visível e o invisível - de era em era, até chegar a afetar porção da Humanidade.

Um dos descobrimentos mais interessante dos tempos modernos é a faculdade que permite a uma certa classe de sensitivos receber, de qualquer objeto colocado em suas mãos ou aplicado sobre sua testa, impressões do caráter ou da aparência do indivíduo ou de qualquer objeto com que ele esteve anteriormente em contato. Assim, um manuscrito, um quadro, uma vestimenta ou uma jóia - seja qual for a sua antigüidade - transmite ao sensitivo uma pintura vívida do escritor, pintor ou usuário, mesmo que ele tenha vivido nos dias de Ptolomeu ou Enoc. Não mais: um fragmento de um antigo edifício recordará a sua história e até cenas que transpiram do seu interior ou das suas cercanias. Um pedaço de minério levará a visão da alma de volta à época em que ele estava em processo de formação. Esta faculdade é denominada pelo seu descobridor - Prof. J.R. Buchanan, de Louisville, no Kentucky - de psicometria. É a ele que o mundo está em débito por este acréscimo tão importante à ciência psicológica; e é a ele, talvez, quando o ceticismo for derrubado pelo acumulo de fatos, que a posteridade erigirá uma estátua. Anunciando ao público a sua grande descoberta, o Prof. Buchanan, limitou-se ao poder da psicometria para delinear o caráter humano, diz: "A influência mental e fisiológica atribuída à escrita parece ser indestrutível, pois os espécime mais antigos que investiguei forneceram as suas impressões com uma nitidez e uma força pouco, senão nada, prejudicadas pelo tempo. Velhos manuscritos, que exigiam um antiquário para se decifrar a sua estranha caligrafia antiga, foram facilmente interpretados pelo poder psicológico. (...). A propriedade de conservar a impressão da mente não está limitada à escrita. Desenhos, quadros - tudo aquilo em que o contato, o pensamento e a volição humana têm sido consumidos - podem encadear-se a esse pensamento e a essa vida, de maneira que eles re-ocorram à mente de uma pessoa quando há contato".

Sem, talvez, conhecer realmente, nas primeiras horas da sua descoberta, a significação de suas próprias palavras acrescenta: "Esta descoberta, na sua aplicação às artes e à História, abrirá uma mina de informações interessantes".

A existência desta faculdade foi demonstrada experimentalmente, pela primeira vez, em 1841. Desde então, foi verificada por milhares de psicômetras em diferentes parte do mundo. Ela prova que tudo o que ocorre na Natureza - por mínimo ou insignificante que seja - deixa a sua impressão indelével sobre a natureza física; e, como não resulta daí nenhuma perturbação molecular apreciável, a única inferência possível é a que essas imagens foram produzidas por aquela força invisível, universal - o éter, ou luz astral.

No livro, The Soul of Things, o Prof. Denton, geólogo, entra em grande profundidade numa discussão sobre este assunto. Fornece uma enorme quantidade de exemplos do poder psicométrico, que a Sra. Dentron possui em grau bastante acentuado. Um fragmento da casa de Cícero, em Túsculo, permitiu-lhe descrever, sem a mínima informação sobre a natureza do objeto colocado a sua frente, não só a vizinhança do grande orador, mas também o morador anterior do edifício, Cornelius Sulla Félix, ou, como era usualmente chamado, Sulla, o Ditador. Um fragmento de mármore da antiga Igreja Cristã de Esmirna fez surgir diante dela a sua congregação e os sacerdotes oficiantes. Espécimes de Nínive, da China, de Jerusalém, da Grécia, do Ararat e de outros lugares do mundo trouxeram à baila cenas da vida de várias personagens cujas cinzas desapareceram a milhares de anos. Em muitos casos o Prof. Denton verificou as afirmações com o auxilio de registros históricos. Mais que isso: um pedaço do esqueleto ou um fragmento do dente de um animal antediluviano induziu a vidente a perceber a criatura tal como era quando estava viva, e até a viver a sua vida por alguns breves momentos e a experimentar as suas sensações. Diante da busca ansiosa do psicômetra, os recessos mais ocultos do domínio da Natureza revelam os seus segredos e os eventos das épocas mais remotas rivalizam em vividez de impressão com as circunstancias fugazes de ontem.

Diz o autor, na mesma obra: "Nenhuma folha tremula, nenhum inseto rasteja, nenhuma ondulação se põe em mancha - porém cada movimento está gravado por mil escribas fieis em escrita infalível e indelével. Isto é válido para todas as épocas, da primeira aurora de luz sobre este globo infantil, quando uma cortina de vapores flutuava ao redor do seu berço, até este momento. A Natureza esteve sempre ocupada em fotografar cada instante. Que galeria de quadro é ela!"

Parece-nos impossível imaginar que cenas da antiga Tebas ou de algum templo pré-histórico pudessem ser fotografadas sobre a simples substância de certos átomos. As imagens dos eventos estão incrustadas naquele agente universal, que tudo penetra, que tudo conserva e que os filósofos chamam de "a alma do mundo", e o Sr. Denton, de "a alma das coisas". O psicômetra, aplicando o fragmento de uma substância à sua fronte, coloca o seu eu interior em relação com a alma interior do objeto que ele toca. Admite-se agora que o éter universal penetra todas as coisas na Natureza, mesmo a mais sólida. Começa-se a admitir que ele preserva as imagens de todas as coisas que dele transpiram. Quando o psicômetra examina o seu espécime, ele é colocado em contato com a corrente da Luz Astral, que está em relação com aquela espécime e que conserva quadros dos eventos associados à história. Estas cenas, de acordo com Dentron desfilam diante dos seus olhos com a velocidade da luz; as cenas sucedem tão rapidamente umas às outras, que só pelo exercício supremo da vontade é ele capaz de reter uma delas no campo de sua visão durante um tempo suficiente para a descrever.

O psicômetra é clarividente; isto é, ele vê com o olho interior. A menos que o poder da sua vontade seja muito forte, a menos que ele tenha sido treinado plenamente para esse fenômeno particular e que o seu conhecimento das capacidades da sua visão sejam profundos, as suas percepções de lugares, de pessoas e de eventos devem ser necessariamente muito confusas. Mas no caso da mesmerização, em que esta mesma faculdade clarividente se desenvolveu, o operador, cuja vontade mantém a do paciente sob controle, pode força-la a concentrar a sua atração sobre um determinado quadro durante o tempo suficiente para observar todos os seus detalhes minuciosos. Além disso, sob a direção de um mesmerizador experimentado, o vidente ultrapassaria o psicômetra natural na previsão de eventos futuros, mais distintos e mais claros do que para este último. E àqueles que poderiam objetar contra a possibilidade de se perceber aquilo que "ainda não é", podemos fazer a seguinte pergunta: Por que é mais impossível ver aquilo que será do que trazer de volta à visão aquilo que se foi e não existe mais? Segundo a doutrina cabalística, o futuro existe na luz astral em embrião, como o presente existiu em embrião no passado. Ao passo que o homem é livre para agir como lhe agrada, a maneira pela qual el deseja agir foi prevista há muito tempo; não no terreno do fatalismo ou do destino, mas simplesmente no princípio da harmonia universal, imutável; e, da mesma maneira, pode-se saber de antemão que, quando uma nota é tangida, as suas vibrações não serão e não poderão ser modificadas para as vibrações de uma outra nota. Além disso, a eternidade não pode ter passado nem futuro, mas apenas presente; como o espaço infinito, no seu estrito literal, não pode ter lugar distante nem próximos. As nossas concepções, limitadas à estrita área de nossa experiência, tendem determinar se não um fim, pelo menos um princípio para o tempo e para o espaço; mas nada disso existe na realidade - pois nesse caso o tempo não seria eterno, nem o espaço infinito. O passado não existe mais do que o futuro, como dissemos, só as nossas memórias sobrevivem; e as nossas memórias são apenas relances que apanhamos dos reflexos desse passado nas corrente da luz astral, da mesma maneira que o psicômetra os apanha das emanações astrais do objeto que ele tem em mãos.







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