ÍSIS SEM VÉU
H.P.Blavatsky
Compilação: Mário J.B. Oliveira


A LUZ DIVINA. (L.1.pág.216).

A luz divina através da qual, desimpedida pela matéria, a lama percebe coisas passadas, presentes e futuras, como se os seus raios se refletissem num espelho; o golpe mortal desferido num instante de violenta raiva ou clímax de um ódio longamente inflamado; a bênção enviada por um coração reconhecido ou benévolo; e a maldição lançada contra um objeto - ofensor ou vítima -, tudo deve passar através desse agente universal, que, sob um impulso, é o sopro de Deus, e sob outro - o veneno do demônio. Ele foi descoberto (?) pelo Barão Reichenbach e chamado de OD, não podemos dizer se intencionalmente ou não, mas é singular que se tenha escolhido um nome que é mencionado nos livros mais antigos da Cabala.

Emepht o Princípio Primeiro e Supremo, engendrou o Ovo e depois de incuta-lo impregnando-o de sua própria essência, desenvolveu-se o germe do qual nasceu Ptah o ativo e criador princípio que iniciou sua obra. Da expansão infinita da matéria cósmica, que se formara sob seu alento, ou de sua vontade, esta matéria cósmica, luz astral, éter, bruma ígnea, princípio de vida - pouco importa o nome que lhe dermos -, este princípio criador, ou, como a nossa moderna filosofia o designa, lei da evolução, colocando em movimento as potências nele latentes, formou sóis e estrelas, e satélites; controlou sua localização pela lei imutável da harmonia, e povoou-os "com todas as formas e qualidades de vida". Nas antigas mitologias orientais, o mito cosmogônico diz que não havia senão água (O Pai) e o Limo Prolífero (A Mãe, Ilus ou Hylê), do qual proveio a serpente cósmica - a matéria. Era o deus Phanes, o deus revelado, a Palavra ou Logos. A boa vontade com que este mito foi aceito, até mesmo pelos cristãos que compilaram o Novo Testamento, pode ser inferida pelo seguinte fato: Phanes, o deus revelado, é representado neste símbolo da serpente como um Protogonos, um ser provido das cabeças respectivas de um homem, um falcão ou águia, um touro - taurus - e um leão, com asas em ambos os lados. As cabeças referem-se ao zodíaco, e representam as quatro estações do ano, pois a serpente Cósmica é o ano Cósmico, ao passo que a própria serpente é o símbolo de Kneph, o Deus imanifestado, o Pai. O tempo é alado, por isso a serpente é representada com asas. Se lembrarmos que cada um dos quatro evangelistas é representado tendo próximo de si um dos animais mencionados - agrupados em conjunto ao selo de Salomão e no pentagrama de Ezequiel, e reencontrados nos quatro querubins ou esfinges da Arca da Aliança -, compreenderemos talvez o significado secreto assim como a razão por que os primeiros cristão dotaram este símbolo; e por que os atuais católicos romanos e os gregos da Igreja oriental costumam representar os quatro evangelistas com os respectivos animais simbólicos. Compreenderemos também por Irineu, bispo de Lyon, insistia tanto na necessidade de haver um quarto evangelho, explicando que quatro são as zonas do mundo, e quatro os ventos principais provindos dos quatro pontos cardiais, etc.

Segundo um dos mitos egípcios, a forma-fantasma da ilha de Chemmis (Chemi, Antigo Egito), que flutua sobre as ondas etéreas da esfera empírea, foi chamada à vida por Hórus-Apolo, o deus do Sol, que a fez evoluir do ovo cósmico.

No poema cosmológico do Voluspâ (a canção da profetiza), que contém as lendas escandinavas sobre a aurora mesma das idades, o germe-fantasma do universo é representado a repousar no Ginnugagap - ou a taça da ilusão, um abismo sem fim e vazio. Nessa matriz do mundo, inicialmente uma região de noite e desolação, Nifelheim (a região das nuvens), cai um raio de luz (éter), que se derramou sobre a taça e nela se congelou. Então, o Invisível assoprou um vento abrasador que dissolveu as águas congeladas e dissipou as nuvens. Estas águas, chamadas de correntes de Elivâgar, destiladas em gotas vivificantes, criaram, ao cair, a terra e o gigante Ymir, que tinha apenas "a aparência humana" (o princípio masculino). Com ele foi criada a vaca, Aydhumla (princípio feminino), de cujo úbere fluíram quatro correntes de leite, que se difundiram pelo espaço (a luz astral é a sua emanação mais pura). A vaca Audhumla produz um ser superior, chamado Buri, belo e poderoso, lambendo as pedras que estavam cobertas de sal mineral.

Ora, se levarmos em consideração que este mineral era universalmente considerado pelos antigos filósofos como um dos princípios formativos essenciais da criação orgânica; pelos alquimistas como o dissolvente universal, que, dizem eles, devia ser retirado da água; e por todo mundo, mesmo como é visto atualmente tanto pela ciência como pelas idéias populares, como um ingrediente indispensável para o homem e os animais - podemos compreender facilmente a sabedoria oculta desta alegoria sobre a criação do homem. Paracelso chama o sal "o centro da água, em que os metais devem morrer", etc.; e Van Helmont chama o alkahest, "summum et felicissimum ommium salium", o mais bem logrado de todos os sais.

No Evangelho segundo São Mateus, diz Jesus: "Vós sois o sal da terra: mas se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos?" e, prosseguindo a parábola, acrescenta: "Vós sois a luz do mundo" (V, 14). Isto é mais do que uma alegoria; essas palavras chamam a atenção para um sentido direto e inequívoco relativamente aos organismos espirituais e físicos do homem em sua natureza dupla, e mostram, ademais, um conhecimento da "doutrina secreta", de que encontramos traços diretos igualmente nas mais antigas e comuns tradições populares do Antigo e do Novo Testamento, e nos escritos dos místicos e dos filósofos antigos e medievais.







Loja Teosófica Virtual São Paulo © 1996-99