ÍSIS SEM VÉU
H.P.Blavatsky
Compilação: Mário J.B. Oliveira


EXPERIÊNCIAS DOS FAQUIRES. (L.1.pág.211).

Em sua extensa obra sobre as manifestações místicas da natureza humana, o naturalista e filósofo Maximilian Pertv dedicou todo um capítulo às Formas modernas de magia. "As manifestações da vida mágica", diz ele no Prefácio, " repousam em parte numa ordem de coisas diferente da natureza com a qual estamos familiarizados, com tempo, espaço e causalidade; esta manifestações só escassamente são experimentadas; elas podem ser evocadas a nosso convite, mas devem ser observadas e cuidadosamente seguidas sempre que ocorrem em nossa presença; podemos apenas agrupá-la analogicamente sob certas divisões, e deduzi-las dos princípios e leis gerais." Portanto, para o Prof. Perty, que pertence evidentemente à escola de Schopenhauer, a possibilidade e a naturalidade dos fenômenos que tiveram lugar na presença de Govinda Svâmin, o faquir, e que foram descritos por Louis Jacolliot, o orientalista, são totalmente demonstrados de acordo com esse princípio. O faquir era um homem que, através da completa sujeição da matéria de seu sistema corporal, atingia o estado de purificação no qual o espírito se torna quase inteiramente livre de sua prisão, e pode produzir maravilhas. Sua vontade, não, um simples desejo seu torna-se uma força criadora, e ele pode comandar os elementos e os poderes da Natureza. Seu corpo não é mais um entrave; por isso ele pode conversar "espírito a espírito, sopro a sopro". Sob suas palmas estendidas, uma semente, desconhecida para ele (pois Jacolliot a recolheu ao acaso, entre uma variedades de sementes, de um saco, e a plantou ele próprio, depois marcá-la, num vaso de flores), germinará instantaneamente, e abrirá seu caminho através do solo. Desenvolvendo em menos de duas horas um tamanho e um peso que, talvez, sob circunstâncias comuns, requereriam vários dias ou semanas, ela cresce miraculosamente sob os próprios olhos do experimentador perplexo, e confundindo todas as fórmulas aceita da Botânica. Trata-se de um milagre? De modo algum; pode sê-lo, talvez, se tornarmos a definição de Webster, segundo a qual o milagre é "todo evento contrário à constituição estabelecida e ao curso das coisas - um desvio das leis conhecidas da Natureza". Mas estarão os nossos naturalistas preparados para defender a afirmação de que o que eles estabeleceram uma vez pela observação é infalível? Ou que todas as leis da Natureza lhes são conhecidas? Neste caso, o "milagre" é de uma ordem um pouco mais elevada que as atuais experiências bem conhecidas do Gen. Pleasontom, da Filadélfia. Enquanto a vegetação e os frutos de suas vinhas foram estimulados a uma incrível atividade pela luz violeta, o fluído magnético que emanava das mãos do faquir efetuava mudanças mais intensas e rápidas na função vital das plantas indianas. Ele atraiu e concentrou o Âkasa, ou princípio vital, no germe. Seu magnetismo, obedecendo à sua vontade, dirigiu o Âkasa numa corrente concentrada através da planta em direção às suas mãos, e, mantendo um fluxo ininterrupto pelo espaço de tempo necessário, o princípio vital da planta construiu célula após célula, camada após camada, com extraordinária atividade, até que a obra se completasse. O princípio vital é apenas uma força cega que obedece a uma influência controladora. No curso ordinário da Natureza, o protoplasma da planta a teria concentrado e dirigido numa certa velocidade estabelecida. Esta velocidade poderia ter sido controlada pelas condições atmosféricas predominantes, sendo o seu crescimento rápido ou lento, e, na haste e na ponta, na proporção do grau de luz, calor e umidade da estação. Mas o faquir, vindo em auxílio da Natureza com sua vontade poderosa e o espírito purificado do contato com a matéria, condensada, por assim dizer, a essência da vida da planta em seus germes, e força-a a amadurecer antes do tempo. Ao ser totalmente submetida à sua vontade, esta força cega obedece-a servilmente. Se ele escolhe imaginar a planta como um monstro, ela seguramente se tornara um, como cresceria ordinariamente em sua forma natural, pois a imagem concreta - escrava do modelo subjetivo desenhado na imaginação do faquir - é forçada a seguir o original em seus mínimos detalhes, como a mão e o pincel do pintor seguem a imagem que copiam de sua mente. A vontade do faquir mágico forma uma invisível mas, para ele perfeitamente objetiva matriz, na qual a matéria vegetal é forçada a se depositar e a assumir a forma fixada. A vontade cria, pois a vontade em movimento é força, e a força produz matéria.

Se algumas pessoas objetarem à explicação alegando que o faquir não poderia, de modo algum, criar o modelo em sua imaginação, uma vez que Jacolliot não o informou sobre a espécie de semente que havia selecionado para a experiência, a elas respondemos que o espírito do homem é como o do seu Criador - onisciente em sua essência. Enquanto em seu estado natural o faquir não conhecia e não poderia conhecer se era a semente de um melão ou de qualquer outra planta, uma vez em transe, consequentemente, morto corporalmente a toda percepção exterior, o espírito, para o qual não existem distância, obstáculos materiais, nem espaço ou tempo, não experimentou dificuldade alguma para perceber a semente de melão, estivesse ela profundamente enterrada na terra do vaso ou refletida na mente de Jacolliot. Nossas visões, presságios e outros fenômenos psicológicos, todos os quais existem na Natureza, corroboram o fato acima mencionado.

Faríamos bem talvez em responder agora a uma outra objeção pendente. Os prestidigitadores indianos, dir-nos-ão, fazem o mesmo, e tão bem quanto o faquir, se podemos acrescentar nos jornais e nas narrativas dos viajantes. Sem dúvida; no entanto, esses prestidigitadores ambulantes não são nem puros em seus modos de vida nem considerados santos por ninguém; nem pelos estrangeiros nem pelo seu próprio povo, pois são feiticeiros; homens que praticam a arte negra. Enquanto um homem santo como Govinda Svâmin requer apenas a ajuda de sua própria alma divina, estritamente unida ao espírito astral, e a ajuda de alguns poucos pitris familiares - seres puros, etéreos, que se agrupam em trono de seu irmão eleito em carne -, o feiticeiro só pode invocar para a sua ajuda aquela espécie de espíritos que conhecemos como elementais. Os semelhantes se atraem; e a ambição por dinheiro, propósitos impuros e desígnios egoístas não podem atrair outros espíritos senão os espíritos que os cabalistas judeus conhecem com klippoth, habitantes de Asiah, o quarto mundo, e os mágicos orientais como afrits, ou espíritos elementais do erro, ou daêvas (Ou Devas, Demônio ou mau gênio dotado de grande poder).-







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