ÍSIS SEM VÉU
H.P.Blavatsky
Compilação: Mário J.B. Oliveira


CONDUTORES CEGOS DOS CEGOS

FATOS E FENÔMENOS PSÍQUICOS. O PAPEL DA PSICOLOGIA. (L.1.pág.160).

Acreditamos que apenas alguns dos fenômenos físicos genuínos são produzidos por espíritos humanos desencarnados. Entretanto, mesmo aqueles que são causados por forças ocultas da Natureza, tal como se manifestam através de poucos médiuns genuínos e são conseqüentemente empregados pelos chamados "prestidigitadores" da Índia e do Egito, merecem uma investigação cuidadosa e séria por parte da ciência, especialmente agora que muitas autoridades respeitáveis comprovaram em muitos casos a impossibilidade de fraudes. Sem dúvida alguma, existem "conjuradores" profissionais que podem executar façanhas mais incríveis do que todos os "John King" ingleses e americanos juntos: Robert-Hodin podia fazê-lo, incontestavelmente, mas isso não evitou que ele, sem rodeios, risse na cara dos acadêmicos quando estes lhe exigiram que declarasse nos jornais que podia fazer uma mesa se mover, ou fazê-la dar respostas a perguntas por meio de pequenas batidas, sem contato de mãos, a menos que a mesa tivesse sido preparada anteriormente. Só o fato de uma célebre prestidigitador de Londres ter recusado uma aposta de mil libras esterlinas oferecidas pelo Sr. Algernon Joy para que ele produzisse as mesmas manifestações obtidas usualmente através de médiuns - tendo ele estipulado que ficaria solto e livre das mãos de uma comissão -, só este fato desmente o seu exposé dos fenômenos ocultos.

Afirmamos novamente, com toda segurança, que não existe feiticeiro profissional - do Norte, do Sul ou do Ocidente - que possa rivalizar nem mesmo em termos de êxito aproximado com esses filhos ignorantes e nus do Oriente. Estes não necessitam de preparativos ou ensaios; mas estão sempre prontos, feita uma comunicação, a evocar em seu socorro os poderes ocultos da Natureza, que, tanto para os prestidigitadores quanto para os cientistas da Europa, são um livro fechado. Na verdade, como diz Eliú, "não são os sábios de muita idade, nem os anciãos os que julgam o que é justo".

O desenvolvimento da ciência psicológica foi retardado mais pelo ridículo dessa classe de pretensiosos do que pelas dificuldades inerentes a esse estudo. O riso de mofa dos cientistas iniciados ou dos tolos do modismo têm contribuído para manter o homem na ignorância de seus poderes psíquicos soberanos do que as obscuridades, os obstáculos e os perigos que se acumulam sobre o assunto. Isto é válido sobretudo para os fenômenos espiritistas.

Assim, passo a passo, a Humanidade move-se no círculo restrito do conhecimento, reparando a ciência constantemente os seus erros e reajustes no dia seguinte as suas teorias errôneas da véspera. Esse foi o caso, não somente para as questões relativas à Psicologia, tais como o Mesmerismo no seu duplo sentido de fenômeno ao mesmo tempo físico e espiritual, mas também para as descobertas diretamente relacionadas com as ciências exatas - e elas têm sido fáceis de demonstrar.

Um dos escritos mais hábeis que devemos ao punho do Prof. Tyndall é o seu cáustico ensaio sobre o "Materialismo científico". Consideramos o que ele tem a dizer sobre o fenômeno da consciência. Ele cita a seguinte pergunta feita por Martineau: "Um homem pode (...) dizer 'eu sinto, eu penso, eu amo'; mas como é que a consciência se imiscuiu no problema?". E logo responde: "A passagem da parte física do cérebro aos fatos correspondentes da consciência é inconcebível. Dado que um pensamento definido e uma ação molecular definida ocorrem simultaneamente no cérebro, não possuímos o órgão intelectual nem aparentemente nenhum rudimento desse órgão que os permitiria passar, por um processo de raciocínio, de um a outro. Eles surgem juntos, mas não sabemos por quê. Se as nossas mentes e os nossos sentidos fossem muito extensos, fortificados e esclarecidos de maneira que pudéssemos ver e sentir as mínimas moléculas do cérebro; fôssemos nós capazes de seguir todos os seus movimentos, todos os seus agrupamentos, todas as suas descargas elétricas, se tais coisas existirem; e estivéssemos nós intimamente familiarizados com os estados correspondentes do pensamento e do sentimento, nós nos encontraríamos ainda mais longe do que nunca da solução do problema `Como estão esses processos físicos ligados aos fatos da consciência?'. O abismo entre as duas classes de fenômenos ainda continua a ser intelectualmente intransponível".

Esse abismo, tão intransponível para Tyndall quanto o nevoeiro de fogo em que o cientista se defronta com sua causa desconhecida, é uma barreira apenas para os homens desprovidos de intuições espirituais. O livro Outlines of Lectures on the Neurological System of Antlopology, do Prof. Buchanan, obra que remonta a 1.854, contém sugestões que, se os saberetes as considerassem, mostrariam como se pode construir uma ponte sobre este abismo apavorante.

Mas o edifício do materialismo foi todo ele baseado sobre este alicerce grosseiro - a razão. Quando eles estirarem até os seus limites externos, os seus mestres podem, quando muito, nos revelar um universo de moléculas animadas por um impulso oculto. Que melhor diagnóstico da enfermidade de nossos cientistas pode ser deduzido da análise do Prof. Tyndall do estado mental do clero transmontano por meio de uma ligeira modificação de nomes? Em vez de "guias espirituais", leia-se "presente materialista"; leia-se "espírito" em vez de "ciência" e, no parágrafo seguinte, temos o retrato vívido do moderno homem de ciência desenhado pela mão de um mestre:

"(...) os seus guias espirituais vivem tão exclusivamente no passado pré-científico, que mesmo os intelectos verdadeiramente forte entre eles estão reduzidos à atrofia no que diz respeito à verdade científica. Eles têm olhos, e não vêem; têm ouvidos, e não ouvem; com efeito, os seus olhos e os seus ouvidos são prisioneiros das visões e dos sons de uma outra era. Em relação à ciência, o cérebro dos transmontanos, por falta de exercício, é virtualmente o cérebro infantil não-desenvolvido. É assim que são como crianças em termos de conhecimento científico, mas, como detentores poderosos de uma poder espiritual entre os ignorantes, eles encorajam e impõem práticas tais que o vermelho da vergonha sobre às faces dos mais inteligentes dentre eles". O ocultista estende esse espelho à ciência para que nele ela se reconheça a si mesma.

Desde que a História registrou as primeiras leis estabelecidas pelo homem, não existiu até agora um único povo cujo código não faça depender a vida e a morte dos seus cidadãos do depoimento de duas ou três testemunhas dignas de fé. "Sobre o depoimento de duas ou três testemunhas. morrerá aquele que houver de ser castigado de morte", diz o legislador do povo hebreu. "As leis que enviam um homem à morte pela declaração de uma única testemunha são fatais à liberdade" - diz Montesquieu. "A razão exige que existam duas testemunhas."

Assim, o valor da prova testemunhal foi tacitamente reconhecida e aceito em todos os países. Mas os cientistas não aceitam a prova baseada no testemunho de um milhão de homens que se pronunciaram contra apenas um. É em vão que centenas de milhares de homens testemunhem fatos. Óculos habent et no vident! Eles estão determinados a continuar sendo cegos e surdos. Trinta anos de demonstração prática e o testemunho de alguns milhões de crentes da América e da Europa certamente merecem, até certo ponto, o respeito e a atenção.

"A ciência é a compreensão da verdade ou dos fatos", diz Wesbster; ela é "uma investigação da verdade por si mesma; a busca do conhecimento puro". Se a definição está correta, então a maioria dos nossos modernos eruditos mostraram-se infiéis à sua deusa. "A verdade por si mesma!" E onde procurar, na Natureza, as chaves de cada uma das verdades se não nos mistérios ainda inexplorados da Psicologia?

A Psicologia não tem inimigos piores do que a escola médica denominada alopata. É perder tempo lembrar-lhes que, de todas as ciências supostamente exatas, é a Medicina, reconhecidamente, a que menos direitos tem a esse nome. Embora dentre todos os ramos do conhecimento médico a psicologia devesse mais do que qualquer outro ser estudada pelos médicos, dado que sem a ajuda desta a sua prática degenera em meras conjecturas e intuições fortuitas, eles, a desprezam. A mínima discordância de suas doutrinas promulgadas é repudiada como uma heresia, e embora um método curativo impopular e não-reconhecido possa salvar milhares de vidas, eles parecem, em bloco, dispostos a se agarrar a hipótese e a prescrições tradicionais para condenar o inovador e a inovação até que estes obtenham o timbre oficial. Milhares de pacientes desafortunados podem morrer enquanto isso, defendida a honra profissional, o resto é de importância secundária.







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