ÍSIS SEM VÉU
H.P.Blavatsky
Compilação: Mário J.B. Oliveira


O UNIVERSO CRIADO PELA VONTADE ETERNA. (L 1 pág. 145)

Anos atrás o velho filósofo alemão Schopenhauer tratou simultaneamente dessa força e dessa matéria; e desde a conversão do Sr, Wallace o grande antropólogo adotou evidentemente as duas idéias. A doutrina de Schopenhauer é a de que o universo é apenas a manifestação da vontade. Toda força da Natureza é também um efeito da vontade, que representa um grau maior ou menor de sua objetividade. É o que ensinava Platão, que afirmou claramente que tudo que é visível foi criado ou desenvolvido pela VONTADE invisível e eterna, e à sua maneira. Nosso Céu - diz ele - foi produzido de acordo com o padrão eterno do "Mundo Ideal", contido, como tudo o mais, no dodecaedro, o modelo geométrico utilizado pela Divindade. Para Platão, o Ser Primordial é uma emanação do Espírito Demiúrgico (Nous), que contém em si, desde a eternidade, a "idéia" do "mundo a criar", a qual idéia ele retira de si mesmo. As leis da Natureza são as relações estabelecidas desta idéia com as formas de suas manifestações; "estas formas", diz Schopenhauer, "são o tempo, o espaço e a causalidade. Através do tempo e do espaço, a idéia varia em suas inumeráveis manifestações".

Esta idéias estão longe de ser novas, e mesmo para Platão elas não eram originais. Eis o que lemos nos Oráculos Caldeus: "As obras da Natureza coexistem com a Luz espiritual e intelectual do Pai. Pois ela é a alma que adornou o grande céu e que o adorna depois do Pai".

"O mundo incorpóreo, portanto, já estava terminado, tendo sua sede na Razão Divina", diz Fílon, que é erradamente acusado de derivar sua filosofia da de Platão.

Na Teogonia de Mochus temos em primeiro lugar o éter, e depois o ar; os dois primeiros dos quais Olam, o Deus intangível (o universo visível da matéria), nasceu.

Nos hinos órficos, o Eros-Phanes origina-se do Ovo Espiritual, que os ventos etéreos fecundam, o Vento sendo "o espírito de Deus", que, segundo se diz se move no éter, "planando sobre o caos" - a "Idéia" Divina. "Na Kathakopanishad hindu, Purusha, O Espírito Divino, precede a matéria original, de cuja união brota a grande alma do mundo Mahan-âtma, o Espírito da Vida"; estas últimas denominações são idênticas às da alma universal, ou anima mundi, e da luz astral dos teurgistas e cabalistas.

Pitágoras tomou as suas doutrinas dos santuários orientais, e Platão as reproduziu numa forma mais inteligível que a dos números misteriosos do sábio - cujas doutrinas ele adotou integralmente - para os espíritos não iniciados. Assim, para Platão, o Cosmos é "o Filho" tendo como pai e mãe o Pensamento Divino e a Matéria.

"Os egípcios", diz Dunlap, "fazem uma distinção entre um velho e um jovem Horus, o primeiro sendo o irmão de Osíris e o segundo o filho de Ísis e de Osíris," O primeiro é a Idéia do mundo que permanece no Espírito Demiurgo, "nascido nas trevas antes da criação do mundo". O segundo Horus é esta "Idéia" que emana do Logos, revestindo-se de matéria e assumindo uma existência real.

"O Deus mundano, eterno, ilimitado, jovem e velho, de forma sinuosa", dizem os Oráculos caldeus.

O PODER DA VONTADE. (L.1.pág.146).

A "Forma sinuosa" é uma figura para expressar o movimento vibratório da luz astral, que os antigos sacerdotes conheciam perfeitamente bem, embora elas tenham divergido dos modernos cientistas na sua concepção do éter; pois no éter colocaram a Idéia Eterna que impregna o universo, ou o desejo que se torna força e cria ou organiza a matéria.

"A vontade", diz Van Helmont, "é o primeiro de todos os poderes. Pois, através da vontade do Criador, todas as coisas foram feitas e postas em movimento (...). A vontade é a propriedade de todos os seres espirituais, e revela-se neles tanto mais ativamente quanto mais eles se libertam da matéria".

E Paracelso, "o divino", como era chamado, acrescenta no mesmo tom: "A fé deve confirmar a imaginação, pois pela fé estabelece-se a vontade. (...) Determinada imaginação é um começo de todas as operações mágicas (...). Porque os homens não imaginam perfeitamente, nem crêem, o resultado é que as artes são inexatas, ao passo que poderiam ser perfeitamente exatas".

Somente o poder oposto da incredulidade e do ceticismo, se projetando numa corrente de força igual, pode refrear o outro, e às vezes neutralizá-lo completamente. Por que se espantariam os espiritistas com o fato de a presença de alguns cépticos enérgicos, ou daqueles que, mostrando-se asperamente contrários ao fenômeno, exercem inconscientemente a sua força de vontade em sentido inverso, impedir e amiúde deter por completo as manifestações? Se não existe nenhum poder consciente na Terra que não encontre às vezes um outro para nele interferir ou mesmo para contrabalança-lo, o que há de surpreendente quanto o poder inconsciente, passivo de um médium é de repente paralisado em seus efeitos por um outro inverso, embora também exercido inconscientemente? Os Profs. Faraday e Tyndall orgulham-se de que a sua presença num círculo impediria imediatamente qualquer manifestação. Somente este fato bastaria para provar os eminentes cientistas que havia alguma força neste fenômeno capaz de prender a sua atenção. Como cientista, o Prof. Tyndall era talvez a pessoa mais importante no círculo daqueles que estavam presente à séance; como observador arguto, alguém não facilmente iludido por um médium ardiloso, ele talvez não foi melhor, ou então mais sagaz, do que os outros na sala, e se as manifestações foram apenas uma fraude tão engenhosa para enganar os outros, elas não teriam parado, mesmo com a sua importância. Que médium pode vangloriar-se de fenômenos como os que foram produzidos por Jesus e depois dele pelo apóstolo Paulo? No entanto, mesmo Jesus se deparou com casos em que a força inconsciente da resistência sobrepujou até mesmo a sua tão bem dirigida corrente de vontade. "E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles."

Existe um reflexo de cada uma destas idéias na filosofia de Schopenhauer. Nossos cientistas "investigadores" poderiam consultar suas obras com proveito. Eles encontrariam nelas muitas hipóteses baseadas em idéias antigas, especulações sobre os "novos" fenômenos, que podem revelar-se tão razoáveis como qualquer outra, e poupar o inútil trabalho de investigar novas teorias. As forças psíquicas e ectênicas, o "ideomotor" e os "poderes eletrobiológicos"; as teorias do "pensamento latente" e mesmo a da "celebração inconsciente" podem ser condensadas em duas palavras: a LUZ ASTRAL cabalista.

As corajosas teorias e opiniões expressas nas obras de Schopenhauer diferem completamente das da maioria de nossos ortodoxos. "Na realidade", assinala este audacioso especulador, "não existe nem matéria nem espírito. A tendência para a gravitação numa pedra é tão inexplicável quanto o pensamento num cérebro humano. (...) Se a matéria pode - ninguém sabe por quê - cair no chão, então ela pode também - ninguém sabe por quê - pensar. (...) Assim que, mesmo na mecânica, ultrapassamos o que é puramente mecânico, assim que atingimos o inescrutável, a adesão, a gravitação, etc., estaremos em presença de fenômenos que são tão misteriosos para os nossos sentidos quanto a VONTADE e o PENSAMENTO no homem - nós nos veremos defrontando o incompreensível, pois assim é toda a Natureza. Onde está portanto essa matéria que todos vós pretendeis conhecer tão bem; da qual - estando tão familiarizados com ela - retirais todas as vossas conclusões e explicações, e à qual atribuís todas as coisas? (...) Isso, que pode ser totalmente compreendido por nossa razão e pelos sentidos, é apenas o superficial: eles jamais podem atingir a verdadeira substância interior das coisas. Tal era a opinião de Kant. Se considerais que existe, numa cabeça humana, alguma espécie de espírito, então sereis obrigado a conceder o mesmo para uma pedra. Se a vossa matéria morta e completamente passiva pode manifestar uma tendência para a gravitação, ou, como a eletricidade, atrair e repelir, e lançar chispas - então, como o cérebro, ela também pode pensar. Em suma, toda partícula do chamado espírito pode ser substituída por um equivalente de matéria, e toda partícula de matéria pode ser substituída pelo espírito. (...) Portanto, não é a divisão cartesiana de todos os seres em matéria e espírito que se deve considerar filosoficamente exata; mas apenas se os dividirmos em vontade e manifestação, uma forma de divisão que nada tem a ver com a primeira, pois ela espiritualiza todas as coisas: tudo aquilo que no primeiro caso é real e objetivo - corpo e matéria -, ela transforma numa representação, e toda manifestação em vontade".

Essas idéias corroboram o que dissemos a respeito dos vários nomes dados à mesma coisa. Os adversários batem-se apenas por palavras. Chamai o fenômeno de força, energia, eletricidade ou magnetismo, vontade, ou poder do espírito, ele será sempre a manifestação parcial da alma, desencarnada ou aprisionada por um tempo em seu corpo - de uma porção daquela VONTADE inteligente, onipotente e individual que penetra toda a natureza, e conhecida, devido à insuficiência da linguagem humana para expressar corretamente imagens psicológicas, como - DEUS.

As idéias de alguns de nossos sábios a respeito da matéria são, do ponto de vista cabalístico, de muitas maneiras errôneas







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